A exposição prolongada ao barulho, como é o caso de trabalhadores de
fábricas e indústrias que não protegem os ouvidos, pode levar à perda
definitiva da audição. O mesmo pode acontecer, segundo Hueb, em caso de
exposição a som muito alto, mesmo que por um curto período. “No
carnaval, os foliões costumam ficar muito perto das fontes de som e
expostos durante horas, sem descanso para os ouvidos. Isso pode causar
sérios problemas”, diz.
Há 39 anos à frente da bateria da Vai-Vai, o Mestre Tadeu afirma que
faz acompanhamento médico para evitar problemas auditivos, mas garante
que nunca teve nenhum sintoma. “Ensaiamos cerca de quatro horas por dia e
não costumo usar protetores, mas nunca tive problemas. Em todos esses
anos tivemos apenas um caso de uma pessoa que começou a perder a
audição, mas ainda assim eu prefiro que a bateria não use o protetor
porque pode atrapalhar o andamento do ritmo durante o desfile”, afirma.
A rainha Priscila Bonifácio, que desfila junto à bateria da Unidos de
Vila Maria, acredita que a adrenalina dos ensaios e do desfile
“anestesia” o corpo para qualquer incômodo. “A gente sabe que o barulho
não faz bem, mas nunca senti nada. Sou rainha de bateria há três anos e
se puder vou sambar no meio dos ritmistas. É maravilhoso. Uma emoção e
uma adrenalina que superam qualquer coisa”, conta a musa, de 30 anos.
Apesar da resistência de Mestre Tadeu e Priscila, Hueb afirma que as
pessoas que se expõem prolongadamente ao barulho não têm o ouvido
“treinado”. “Alguém que fica diretamente exposto ao ruído só não sente
os efeitos se for extremamente resistente ou porque ainda não deu tempo
de aparecerem os zumbidos causados pela permanência crônica no barulho.”
O otorrinolaringologista Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, do Hospital
israelita Albert Einstein, e professor da Escola Paulista de Medicina,
explica que os sintomas de lesões auditivas podem demorar a aparecer.
“Estudos apontam que o trauma acústico pode levar até dez anos para
atingir o seu máximo. Um operário submetido a um ruído acima do
permitido pode levar dez anos para sentir os sintomas. Esse é o aspecto
mais traiçoeiro dos problemas auditivos”, explica.
No caso do Mestre Adamastor, foram necessários 17 anos para sentir os
efeitos da exposição ao som alto. Ele comanda a bateria da Acadêmicos do
Tucuruvi e procura usar protetores para evitar danos ainda maiores. “Eu
já perdi parte da minha audição em virtude de todos esses anos à frente
da bateria. Hoje procuro usar protetores sempre que possível,
principalmente às vésperas do carnaval, quando os ensaios são mais
frequentes. Os agudos da bateria são muito prejudiciais. É preciso
cuidado”, conta Mestre Adamastor, que recomenda o uso de protetores por
seus ritmistas e demais integrantes da escola.
O técnico de som da Acadêmicos do Tucuruvi, Yves Garcia, confirma a
intensidade preocupante do som nos ensaios e desfiles de carnaval. “Na
quadra, durante os ensaios, chegamos a registrar um som de cerca de 120
decibéis, porque o ambiente é fechado. No sambódromo, por ser aberto,
fica um pouco mais ameno, em torno de 100 decibéis, mas o cuidado ainda
assim é imprescindível”, diz. Com perceber os excessos
Um bom indicador de que o ambiente não está adequado para a saúde dos ouvidos, segundo especialistas, é o nosso tom de voz ao conversar. “É automático que, em locais muito barulhentos, nós aumentemos o volume da voz durante uma conversa. Isso já indica que o ambiente não está adequado”, afirma Albernaz.
Em caso de exposição intensa ao som alto, vale destacar que se o zumbido ou sensação de abafamento durarem por mais de três dias, a recomendação é procurar um especialista para verificar se houve alguma lesão.
Fonte G1- Bem Estar
http://g1.globo.com/carnaval/2012/noticia/2012/02/musica-alta-e-batuques-podem-causar-danos-audicao.html
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